Tem uma coisa que me incomoda sempre que viajo de avião: todo o lixo que é gerado em uma simples viagem. E eu nem estou falando só sobre a imensa quantidade de CO2 gerada em cada voo, não, mas também dos milhares de descartáveis que vão fora todos os dias nas aeronaves.
Uma reportagem do The Guardian aponta um número assustador sobre o assunto: de acordo com a International Air Transport Association, as companhias aéreas produziram 5,2 milhões de toneladas de lixo em 2016. Ainda segundo a reportagem, o destino da maior parte deste lixo são os aterros sanitários e a incineração. Reciclagem? Raramente acontece.
Nesses números estão incluídas refeições pela metade, plásticos descartáveis que envolvem os alimentos, escovas de dente nunca usadas, guardanapos, lixo do banheiro e outras coisas.
Uma das barreiras para que as companhias reduzam essa produção de lixo está na própria legislação. Na Europa, por exemplo, as leis regem que todos os itens relacionados à alimentação que venham de fora do continente sejam tratados como material de alto risco e, portanto, incinerados ou enterrados em um aterro sanitário.
Isso gera dois problemas:
1) a comida que sobra de uma viagem não pode ser doada ou reutilizada no próximo voo
2) copos de café ou talheres, por exemplo, precisam ter o mesmo destino, porque podem ter tido contato com “material contaminado”
Sim, é uma grande loucura e vários outros lugares no mundo possuem restrições similares. Com isso, mesmo companhias aéreas interessadas em reduzir sua produção de lixo enfrentam muita dificuldade para fazê-lo.
Geração de lixo em voos
Há bastante informação disponível sobre os dados de geração de lixo oficiais do mercado, mas pouca gente se dispõe a falar sobre o assunto “em off”. Grande parte das empresas aéreas tem políticas que proíbem seus funcionários de falar sobre questões internas, o que faz com que aquelas pessoas que realmente têm contato com o problema nunca sejam ouvidas.
Confesso que o que gerou o questionamento desse texto foi a contraditória “marmita no voo“. Vi vários perfis de viajantes sustentáveis que optam por levar a sua marmita para gerar menos lixo e eu achava essa ideia bem curiosa.
Até que… me deparei com uma pessoa comentando que isso não fazia nenhum sentido, pois as bandejas de comida oferecidas pelas companhias aéreas são descartadas caso não sejam consumidas (ou seja, é mais lixo ainda sendo gerado!). Fiquei com a pulga atrás da orelha e encasquetei que precisava conversar com alguém que trabalhasse dentro de uma companhia aérea, mas não fosse necessariamente uma “fonte oficial”.
Através de um grupo de troca de informações sobre redução de lixo, conheci uma pessoa que trabalha na Emirates e topou conversar sobre o assunto, pedindo apenas que seu nome não fosse divulgado. Apesar de trabalhar na Emirates, ela me comentou que grande parte das informações se aplica a outras companhias aéreas também (exceto às low costs, que costumam gerar menos lixo). Alguns trechos que copiei exatamente como ela falou vão aparecer assim ao longo do texto ⤵️
Sobre a comida , realmente, para viagens internacionais ou aéreas nacionais mais “caras” (ex.: LATAM) , a comida é calculada de acordo com o número de passageiros e, se você não quiser comer, sua comida vai para o lixo! O que é uma tristeza, mas é a realidade!
Nas companhias aéreas low cost e naquelas que cobram por lanches, por exemplo, a coisa é diferente. Como a comida precisa ser comprada pelos passageiros, tudo é congelado e, o que não for vendido, pode ser usado nos próximos voos, desde que ainda esteja na validade. O mesmo vale para aqueles lanches oferecidos por algumas companhias (como os salgadinhos da Gol). Nesses casos, o que não for consumido fica para o próximo voo e recusar a comida pode ser uma boa saída!
Aí vem outro problema: a comida é toda coberta com tampas plásticas, que visam evitar a contaminação, mas não costumam ser recicladas. Em compensação, aquele potinho feito de um plástico mais resistente onde a comida é servida, geralmente é lavado, esterilizado e reutilizado, assim como os talheres de metal.
O que vai fora:
- Tampas de alimentos
- Copos descartáveis
- Plásticos que envolvem os talheres/pão/cobertores/fones de ouvido
- Sobras de alimentos
- Papel que forra as bandejas
- Guardanapos
- Garrafas de vinho/cerveja/sucos
eu não acredito que sejam reciclados – o que é uma grande tristeza!
O que costuma ser reutilizado:
- Cobertores
- Bandejas para a comida
- Kits de amenidades fechados
O que vai depender da companhia aérea:
- Recipientes para comidas
- Fones de ouvido
- Talheres (os de metal são reutilizáveis e os de plástico não)
- Kits de amenidades abertos
Por exemplo, a nossa entrevistada (vamos supor que o nome dela seja Cláudia, ok?) contou que, na classe econômica da Emirates, as partes de plásticos resistentes (recipiente em que ficam as comidas), talheres de metal e bandejas são todos lavados, esterilizados e reutilizados. O restante, vira lixo e não há separação… A empresa afirma que emprega uma equipe de meio ambiente justamente para recuperar os itens recicláveis em meio aos detritos. Após essa seleção, estes itens são vendidos localmente.
Na classe business e na primeira classe só se utiliza vidro, porcelanas e guardanapos de tecido. Tudinho pode ser reutilizado e, portanto, gera menos lixo. 🙂 MAS, por ocuparem um espaço maior dentro da aeronave, os passageiros destas classes também são responsáveis pela geração de mais emissões de carbono – sobre as quais falamos um pouco aqui e prometemos falar mais em breve.
Ok, mas vamos às dicas para minimizar a produção de lixo em viagens aéreas?
- Use o cartão de embarque digital – estima-se que um e-mail emita 4 gramas de CO2, enquanto uma folha de papel impressa emite 140 gramas. Além disso, as passagens de papel viram lixo no mundo real, enquanto os e-tickets podem ser facilmente excluídos da sua caixa de entrada. 🙂
- Bagagem de mão – aproveite que as companhias aéreas passaram a cobrar pela bagagem despachada e viaje apenas com bagagem de mão. Assim você economiza mais um adesivo (enorme) que iria para o lixo e ainda diminui o peso da aeronave (o que ajuda a diminuir os gastos com combustível)
- Garrafa d’água – Ter uma garrafinha reutilizável é ótimo. Nunca usei, mas as da marca inglesa Ohyo são dobráveis e sem BPA – uma boa dica para quem estiver de viagem pela Inglaterra. Você pode enchê-la nos bebedouros do aeroporto após passar pela segurança (geralmente fica próximo ao banheiro) e, durante o voo, pedir para os comissários encherem a garrafinha. [Cláudia comentou que isso não é permitido oficialmente, mas todo mundo faz] Ah, as garrafinhas usadas nos voos não costumam ser recicladas, viu?
- Bebedouro no avião – Essa eu descobri durante nossa entrevista e não pude testar ainda, já que não existe nos aviões da TAP. Cláudia contou que algumas aeronaves possuem um bebedouro ao lado dos banheiros. É uma torneira onde está escrito ‘drinking water’, em que você pode encher sua garrafa sem problemas. “Os tanques são sempre vistoriados e há uma extrema limpeza” , ela garante.
- Copo reutilizável – Para beber suco, café, vinho ou outras coisas dentro do avião, vale também levar o seu próprio copinho reutilizável. O da Menos 1 Lixo é de silicone, lindo e dobrável, mas dá para levar qualquer um que você já tenha em casa. Segundo a ex-comissária de bordo Ellen Simonetti, os copos plásticos são responsáveis pela maior parte do lixo gerado em um avião.
- Recuse cobertores e fones de ouvido – Essa é fácil, basta levar o seu próprio fone e viajar bem agasalhado. Embora sejam reutilizáveis na maioria das vezes, estes itens vêm envoltos em plástico, gerando mais uma embalagem desnecessária.
Comida de avião com menos lixo: um mini-guia
- Companhias low cost– elas não oferecem comida. Nesse caso, levar seu próprio lanche ou deixar de comer durante o voo são alternativas para economizar e não gerar lixo.
- Companhias que oferecem lanches industrializados – algumas empresas oferecem lanchinhos industrializados para os passageiros e permitem a compra de uma refeição ou sanduíche a bordo. Recusar tanto o ‘brinde’ quanto a compra, nesse caso, é uma alternativa mais sustentável.
- Voos longos – as empresas aéreas são obrigadas a estocar comida equivalente ao número de passageiros. Portanto, não recuse ou você estará apenas gerando mais desperdício. No site das companhias normalmente será possível optar por refeições “especiais” antes do embarque, como comida vegetariana, vegana, sem glúten, etc.
- Aparentemente, algumas companhias aéreas permitem que você recuse a refeição antes do embarque e, dessa forma, não irão oferecer comida como parte de sua passagem desde que você solicite isso. Infelizmente, não encontrei muitas informações a respeito (se souber de algo, conta aí nos comentários, por favor!)
- Quer colaborar mais? Leve seu kit de talheres de bambu ou plástico – os de metal podem ser barrados no aeroporto – e um guardanapo de pano . Assim você recusa os oferecidos pela empresa e gera menos lixo.
- Quer colaborar AINDA mais? Coma toda a comida servida e leve os recicláveis com você para fora do voo. Assim você se certifica de que eles terão o destino correto, já que muitas companhias aéreas não separam seus resíduos.
Dica extra da Cláudia: quer balancear a quantidade de CO2 emitida durante os voos? O aplicativo buscador ECOSIA substitui o Google e planta árvores de acordo com o número de buscas realizadas. Super simples e você já compensa um pouco do impacto gerado. 🙂
P.S.: O Google me disse que NINGUÉM busca por lixo no avião/lixo na aviação/desperdício avião, etc. Como assim, gente? Vamos mudar esse cenário levando essa informação para todo mundo? Não pode ser que esteja todo mundo se “lixando” para o assunto, né não?
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