Os tais cadeados do amor ganharam o mundo. Das pontes de Paris à Fonte do Amor Eterno, em Gramado, eles estão por toda parte, selando promessas de relacionamentos duradouros. Você mesmo já deve ter visto (ou tirado) alguma foto da famosa “Ponte dos Cadeados“.
De inocente e apaixonada a tradição passou longe, mas a música mais cantada do Brasil define bem a prática: não era amor, era cilada!
Desilusão?
Quem estava crente que ia viver uma história de amor enquanto jogava fora as chaves do coração nas águas do Rio Sena terá que dormir abraçado ao fato de que os cadeados não têm nada de românticos. Eles prejudicam a paisagem e colocam em risco vidas e o patrimônio arquitetônico da França.
Cadeados do amor
A tradição de selar promessas românticas com cadeados do amor em Paris e jogar as chaves fora pode parecer de longa data, mas a cilada nasceu apenas em 2008.
Em menos de uma década, o amor eterno se derreteu e o romantismo foi transformado em praga, oferecendo riscos à estrutura das pontes parisienses e às embarcações que passam sob elas.
Entretanto, por mais que tenha se popularizado na França, a tradição não nasceu no país. O jornal francês Le Monde fez um resgate sobre a história dos cadeados do amor.
De origem incerta, o provável é que o símbolo tenha surgido na cidade de Pécs, na Hungria sem a conotação romântica atual. O veículo diz que seria um hábito dos estudantes húngaros nos anos 80, enquanto uma reportagem da BBC situa sua origem na mesma cidade, mas no século 19.
“Os soldados que iam embora da cidade deixavam como lembrança os cadeados de seus armários“, declara o veículo inglês.
Da Hungria, a tradição foi lentamente se espalhando por outras cidades europeias. Até que o cinema entrou em jogo.
Filme dos cadeados do amor
Em 2007, o filme italiano “Ho voglia di te“, baseado na novela homônima de Federico Moccia, abriu o caminho dos cadeados do amor para o mundo. A história você já sabe: em uma cena, os protagonistas juram amor eterno, colocam um cadeado numa ponte e jogam a chave no rio.
Coincidência ou não, os acessórios começaram a aparecer na ponte parisiense no ano seguinte.
Em 2013, os cadeados saem das pontes novamente para o cinema. A cena final do suspense americano “Truque de Mestre” (“Now you see me“) mostra o momento já clichê em que um casal tranca seu amor para sempre na ponte dos cadeados em Paris.
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Ponte dos cadeados em Paris
A primeira ponte dos cadeados em Paris, na verdade, tem outro nome: Pont des Arts.
Depois de ser tomada por juras de amor eterno, a Prefeitura da capital francesa se preparou para derreter os corações cadeados em junho de 2015.
Cerca de 1 milhão de histórias românticas foram removidas da ponte. Juntas, elas somavam 45 toneladas e colocavam em risco a estrutura. No ano anterior, parte do gradeado da ponte já havia desabado devido ao peso.
A grade que cometeu suicídio continha 500 kg de metal. Felizmente, o mergulho no Sena foi rápido e nenhuma vítima se chocou com o decadente símbolo do amor. No entanto, a cena serviu de alerta.
Em 2017, conjuntos de cadeados do amor retirados das pontes de Paris foram leiloados. Pessoas de todo o mundo pagaram até 2.400 euros (quase R$ 15 mil) para levar para casa uma das histórias românticas seladas em metal.
O amor foi transformado em solidariedade, com o valor das vendas revertido para organizações de auxílio aos refugiados.
Infelizmente, turistas são seres apaixonados e obstinados. Diante do impedimento de seguir selando o amor na Pont des Arts, multidões de amantes se dedicaram a espalhar seus cadeados em outras pontes.
Como resultado, um ano depois, foram retiradas outras 40 toneladas de amor que pesavam sobre a Pont Neuf.
Apesar das inúmeras recomendações contrárias à colocação das peças metálicas sobre as pontes, ainda há quem ignore os avisos.
O prejuízo, no entanto, pode ser sentido no bolso. Ainda que a prefeitura de Paris não aplique multas sobre a prática, outras cidades já começaram a banir os cadeados do amor. Em Veneza, na Itália, o ato apaixonado custa caro, com penalidades de até 500 euros (cerca de R$ 3.000). Quem disse que o amor não tem preço?
Nota: Os valores e o câmbio apresentados são referentes ao mês de julho de 2020 e podem sofrer alterações a qualquer momento
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Rafa diz
Me dá uma dorzinha no coração quando vejo essas pontes lotadas de cadeados… imaginando os casais jogando as chaves e poluindo os rios. Pra piorar: me parece extremamente possessivo/abusivo, semioticamente, simbolizar que o amor do outro tem que estar trancado a mim para o resto da vida. Medinho!
¡Besos!
PS: Me lembrei de uma foto nossa em frente a uma fonte dessas de cadeadinhos enferrujados lá em Montevidéu. Ai, que saudades!
Mari Dutra diz
Verdade, nem tinha pensado por esse lado: a simbologia do cadeado é tudo que a gente não deveria querer para um relacionamento… Cadê liberdade?
Ah, e eu lembrei da nossa fotinho também quando estava escrevendo o texto, hehehe. Deve fazer uns 10 anos dessa viagem 💙