Viajar sempre foi luxo. Seja para ficar em resort cinco estrelas, acampado no meio do mato ou em algum lugar entre esses dois extremos, ninguém viaja se não sabe o que vai comer amanhã. Assim como ninguém deveria viajar no meio de uma pandemia.
Tudo bem que 2020 nos presenteou com a tentação na forma de três feriados com menos de um mês de intervalo. Passou Páscoa, Tiradentes, Dia do Trabalho. O pecado da vez se chama Corpus Christi e vem em plena quinta-feira. No meio disso tudo, Coronavírus levou pra bem longe qualquer plano de viagem.
Se você AINDA não cancelou o seu roteiro, te convido a entender o porquê ficar em casa no feriado é importante – e pelos próximos meses também.
Por que não viajar no feriado
Vamos lá: mais de 35 mil mortos só no Brasil.
Mesmo sem ter nenhum sintoma, você pode estar convivendo com o coronavírus nesse instante. Ele pode estar curtindo a vida dentro de você ou simplesmente dando uma voltinha pelo celular ou computador que você usa para ler esse texto.
E sabe o que acontece quando você sai pra rua? O vírus vai junto. Nesse caminho, ele pode encontrar outras pessoas – e daí o estrago está feito.
Digamos que você decida viajar para um “lugar isolado”. Então você pega o seu próprio carro e sai de uma cidade que já tem alguns casos de coronavírus rumo a uma pousadinha no interior do estado. O que pode dar errado?
Chega a hora do check-in.
Aí, mesmo que o seu único contato seja com o recepcionista do lugar mais distante do universo, pode estar levando o vírus para uma cidade que, de outro modo, ficaria segura.
Ou quem sabe você não teve NENHUM contato com outros humanos. Pode parecer perfeito, mas tenho certeza de que na hora do check-out alguém vai entrar no seu quartinho para arrumar aquela cama onde você dormiu.
Parece exagero, mas a interiorização do vírus em Pernambuco seguiu essa lógica: os primeiros casos ocorreram em Recife, mas não demorou para a doença chegar ao interior acompanhando a classe média, como detalha uma reportagem publicada pela BBC.
O mesmo fenômeno foi observado em São Paulo. Em Gramado, na Serra Gaúcha, os dois primeiros casos da doença foram levados por turistas. Os oito casos confirmados de Covid-19 na cidade neste dia 8 de junho são destacados como “importados” no site oficial da prefeitura.
Mas… Ah, você não tem nenhum sintoma mesmo, né? Esse é um dos maiores problemas, porque faz com que o coronavírus passe despercebido. Estudos apontam que mais da metade das pessoas pode contrair o vírus de forma assintomática.
Por que ficar em casa no feriado é o melhor
Antes do feriado de Páscoa, a Gaúcha ZH entrevistou três infectologistas sobre deslocamentos para o interior ou para o litoral durante a pandemia. Todos desaconselhavam viagens, mesmo para quem possui uma segunda residência – e, teoricamente, teria menos contato com outras pessoas.
Vou colocar abaixo a fala do infectologista Luciano Goldani, porque ela resume o problema de forma bem didática:
“A atual recomendação é de que todos se alinhem ao isolamento social, o que não inclui a movimentação de pessoas entre cidades. Em viagens, pessoas infectadas podem levar o vírus para cidades pequenas que ainda não têm casos, já que ele pode ser transmitido por assintomáticos. Além disso, as cidades do Interior são muito deficientes na questão de tratamento, especialmente de UTIs.”
Caso o deslocamento seja essencial por algum motivo, ele deve ser feito com o mínimo de pessoas possível e, de preferência, em veículo próprio (se você tiver um). Se precisar ir de ônibus, senta longe de outros passageiros, mete um litro de álcool gel na mochila e bora se besuntar com frequência.
Além de poder levar o vírus para lugares até então livres de corona, o perigo também vale para quem viaja. Caso desenvolva os sintomas após estar no destino, as dificuldades no tratamento podem ser maiores em locais mais afastados.
Tá, mas quando o Coronavírus vai acabar?
Nem bola de cristal para responder essa pergunta com 100% de certeza, mas já temos algumas pistas.
Segundo Atila Lamarino, que é biólogo e dr. em microbiologia, o mundo deve ficar numa função de entrar e sair de quarentena até o meio de 2022, pelo menos. Dependendo do andar da carruagem, o problema pode se estender até 2025.
Abaixo uma sequência de tweets bem explicados sobre o tema:
Modelaram como desenvolvemos imunidade contra o Sars-CoV-2 e outros coronavírus. E na falta de outras intervenções, ele pode continuar sendo um problema até 2024(!). O que aceleraria o processo de forma não catastrófica seriam novos tratamentos e aumentar a capacidade de leitos.
— Atila Iamarino (@oatila) April 14, 2020
Em um cenário de imunidade protetora, projetam que quarentena em países de 1º mundo com boa capacidade de leitos precisaria durar até o meio de 2021 e relaxar gradualmente até o meio de 2022. Acelerar isso depende diretamente de aumentar a capacidade de hospitais.
— Atila Iamarino (@oatila) April 14, 2020
A projeção mencionada por ele é baseada neste estudo aqui (em inglês).
E o turismo? Vai voltar ao normal?
Provavelmente não.
Mas reuni alguns indícios para tentarmos entender quando vamos voltar a viajar.
A Embaixada dos Estados Unidos no Brasil divulgou um comunicado no dia 20 de abril informando que a tendência é que houvesse uma diminuição no número de voos comerciais de/para o nosso país.
A mensagem seguinte era bem clara: “Os cidadãos americanos que desejam retornar aos Estados Unidos devem reservar voos comerciais o mais rápido possível, a menos que estejam preparados para permanecer no exterior por um período indeterminado“.
Sim, eles lavaram as mãos.
No final do maio, o país passou a proibir a entrada de brasileiros ou pessoas que tenham passado pelo nosso território.
Na Espanha, a quarentena foi estendida até o final de junho. Segundo o El Mundo, expectativa é de que o movimento turístico no país não volte até o próximo ano.
Publiquei no Instagram informações sobre o plano de desaceleração do confinamento proposto pelo governo espanhol (segue o blog por lá para acompanhar as atualizações!).
Em março, a Organização Mundial do Turismo já previa uma queda entre 20% a 30% para o setor neste ano. Mais recentemente, o órgão apontou que 96% dos destinos do mundo estão impondo restrições de viagem.
De acordo com a RFI, a Europa estuda manter as fronteiras do Espaço Schengen fechadas até setembro, mas diversos países já estão flexibilizando essas medidas devido aos bons resultados na contenção do vírus.
Veneza postergou a aplicação de taxas turísticas até 2021. A Alemanha anunciou que não irá realizar a tradicional a Oktoberfest de Munique.
Japão transferiu as Olimpíadas para o próximo ano. Nos Estados Unidos, o Burning Man foi cancelado.
Ou seja, a previsão de retorno para o turismo não é nada boa. E tá tudo bem com isso: viajar não é a prioridade no momento.
Mas… quando vou poder viajar?
A verdade é que ninguém sabe quando será seguro viajar novamente.
Arrisco dizer que o melhor é pensar em viajar apenas a partir de 2021. É chato, eu sei. Mas encarar a quarentena num lugar desconhecido (sem saber se poderá voltar pra casa) é mais chato ainda. Ser transportador de coronavírus beira o impensável de tão ruim.
E eu não quero nem mencionar a possibilidade de acabar hospitalizado em um país que não é o seu…
Pode ser que a pandemia acabe antes? É improvável, mas vai que? Se acontecer, será uma oportunidade de ouro para visitar destinos mais próximos de onde você vive.
Nesse caso, recomendo optar por locais que mostraram preocupação com as medidas de distanciamento social. A Lulu Freitas, do Let’s Fly Away, escreveu sobre a iniciativa do Ministério do Turismo para reconhecer estes empreendimentos, o Selo Turismo Responsável.
Mas, enquanto o número de mortos e infectados no mundo inteiro não para de subir, a melhor coisa a fazer é ficar em casa.
Felizmente, você ainda pode viajar com os livros ou vendo filmes de todos os continentes.
Nota: texto publicado originalmente no dia 27 de abril. As informações apresentadas foram atualizadas e complementadas no dia 8 de junho de 2020 e podem sofrer alterações a qualquer momento.
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