O principal meio de transporte sustentável e econômico que existe já nasceu com você. São os seus pés, como o Marlon lembrou nessa postagem sobre o Caminho de Santiago, na Espanha.
Claro, não dá para fazer qualquer viagem a pé, a não ser que você tenha um condicionamento físico de atleta e muito tempo de férias. E olha: mesmo assim são poucos os trajetos possíveis, desde que a Pangeia deixou de existir – há uns 130 milhões de anos. O que dá para fazer é escolher um transporte mais sustentável para cada roteiro.
Em alguns casos, só o avião salva – e ele não é lá muito amigo do meio ambiente. Em compensação, na maioria das vezes, é possível optar por transportes menos poluentes. Vou deixar a bike de lado nesse texto, mas você pode ler sobre viagens em bicicleta nesta entrevista que fiz com a cicloturista Rafaela Asprino.
Transporte sustentável: como escolher?
Para começar esse papo resumindo bastante o assunto, fiz um infográfico que busca mostrar superficialmente qual a emissão de dióxido de carbono média por quilômetros, em gramas e por passageiro, de cada meio de transporte.
Esses valores podem variar dependendo de diversos fatores que vão da velocidade à ocupação do veículo, mas servem como um parâmetro de comparação para definirmos os meios de transporte mais sustentáveis com base somente nas emissões de CO².
Para explicar melhor cada uma destas modalidades, listo abaixo os diversos meios de transporte de longa distância e seus impactos para o meio ambiente. Se quiser pular direto para algum deles, clica nos links do índice abaixo:
Ônibus
Até recentemente, eu acreditava que o trem era o meio de transporte sustentável por excelência. Imagina a surpresa quando descobri que, na verdade, os ônibus são o maior aliado das longas viagens? Eles também são o meio perfeito para conhecer aquelas cidadezinhas mais escondidas, que não contam com aeroportos ou estações ferroviárias.
Um ônibus de viagem de longa distância irá emitir entre 9 g e 65 g de dióxido de carbono por passageiro, por quilômetro rodado, segundo o livro “Como Viajar sem Prejudicar o Meio Ambiente“, de Siân Berry, publicado pela Folha como parte da série “50 Formas Inteligentes de Preservar o Planeta“.
- Ônibus comum lotado: 9g
- Ônibus com ocupação média: 65 g
Apesar de menos poluentes, os ônibus pecam em conforto para viagens longas. Entretanto, em trajetos com duração de até seis horas, o tempo é quase igual ao gasto em uma viagem de avião se contarmos a ida até o aeroporto, tempo de antecedência do check-in, voo, embarque, desembarque…
Nessa comparação, não dá para esquecer que voos curtos emitem muito mais carbono por quilômetro do que trajetos mais longos – falamos mais sobre isso abaixo.
Quando viajar de ônibus
Dentro do Brasil, os ônibus costumam ser a alternativa mais econômica e rápida para viagens em um mesmo estado ou entre estados vizinhos.
Estabeleça um tempo máximo de viagem de ônibus com o qual você se sinta confortável. Pode ser 4 ou 24 horas, o importante é entender os próprios limites para saber quando o ônibus é uma alternativa viável para o seu deslocamento.
Para mim, 18 horas é aceitável para viagens só de ida (no caso de uma mudança ou de estadias realmente longas). Para viagens curtas (entre uma semana e 1 mês), meu limite é de umas 10 horas. Em compensação, se for ficar apenas um final de semana, acho roubada ficar tanto tempo na estrada.
Trem
Normalmente, você não terá a oportunidade de escolher o tipo de trem usado para sua viagem, exceto em rotas muito populares. Mesmo assim, os mais ecológicos são (em ordem do melhor para o pior): trens elétricos, a diesel e, por último, aqueles movidos a carvão.
Além de ser um meio de transporte quase tão sustentável quanto o ônibus, o trem é muito mais confortável do que um avião, por exemplo. É comum ter internet wi-fi grátis durante a viagem, o tamanho das poltronas é maior e a janela é um espetáculo à parte, com paisagens únicas do país visitado.
Em alguns casos, você poderá escolher trens noturnos, equipados com camas, e economizar uma noite de hospedagem enquanto se locomove de uma cidade para outra.
De novo, recorro ao exemplo do livro “Como Viajar sem Prejudicar o Meio Ambiente“, de Siân Berry, para ilustrar quantos gramas de CO² são emitidos por pessoa por km rodado em trem:
- Trem elétrico: 51 g
- Trem a diesel: 69 g
Quando viajar de trem
Sinceramente? Sempre que possível! 🙂
Aqui vale a mesma regra que você estipulou para o ônibus. Calcular o seu “limite” em um trem e ficar atento a ele. Como o conforto é maior, é natural que esse limite se expanda um pouco para viagens ferroviárias. O pernoite no trem é uma escolha comum entre viajantes que optam pela economia e muito procurado por quem faz um mochilão pela Europa, por exemplo.
Aqui no Brasil, infelizmente, esse meio de transporte ainda não é muito difundido, mas alguns trajetos estão disponíveis. A rota mais conhecida é a que liga Belo Horizonte (MG) a Vitória (ES). A Débora, que conheci durante o Pocando no ES, escreveu sobre essa viagem no De Foco no Mundo.
Carro
Embora os carros sejam apontados como grandes vilões nas emissões de dióxido de carbono, isso não é totalmente verdade quando se trata de viagens de longa distância.
Os carros emitem muito menos CO² por passageiro do que uma viagem de avião, por exemplo. Embora sejam mais poluentes do que transportes rodoviários e ferroviários coletivos, carros são uma boa saída para percorrer grandes distâncias. Para diminuir o impacto, a dica é compartilhar o veículo – não é só mais ecológico, mas também mais divertido.
A quantidade de CO² liberado na atmosfera vai depender principalmente de dois fatores: o tipo de veículo e o combustível utilizado. Abaixo, uma relação da quantidade média emitida por quilômetro por cada tipo de carro, de acordo com dados da calculadora disponibilizada pelo SOS Mata Atlântica.
- Carro movido a álcool: 59 g
- Carro popular movido a gasolina (até 1.4): 181 g
- Carro médio movido a gasolina (1.4 a 2.0): 215 g
- Carro movido a diesel: 257 g
- Carro movido a gás natural: 261 g
- Carro grande movido a gasolina (acima de 2.0): 297 g
Para saber qual a sua responsabilidade nessa conta, divida o total pelo número de passageiros no carro e você vai ver que é possível gerar 297 g de carbono caso viaje sozinho em um carro movido a gasolina; ou apenas 15 g, se estiver acompanhado de mais três pessoas em um carro a álcool.
Carros híbridos e elétricos são ótimos, mas ainda não são uma realidade no Brasil. Se estiver viajando pela Europa, onde estes veículos são mais comuns, alugar um deles pode ser uma ótima opção.
Para saber mais: A Superinteressante traz uma matéria curtinha, mas bem informativa sobre os combustíveis menos poluentes.
Quando o carro é uma boa opção
Quando estiver acompanhado de mais três pessoas, o carro pode ser tão sustentável quanto viajar de trem. Maravilha, né?
Ele é uma boa opção para quem vai viajar para cidades menores e teria que fazer baldeações de transporte antes de chegar ao destino. Além do mais, o tempo na estrada com os amigos já conta como parte da viagem e oferece mais liberdade para conhecer diferentes regiões de um mesmo país.
Também é uma escolha recomendada para viagens um pouco mais longas, por oferecer a possibilidade de realizar paradas ao longo do caminho, como fizemos neste roteiro de carro pela região de La Rioja, na Espanha.
Avião
Ih, aqui vai um dos principais inimigos em termos de transporte sustentável…
O avião não apenas libera MUITO carbono na atmosfera, mas também gera TONELADAS DE LIXO (assim, em maiúsculas mesmo, já que foram 5,2 milhões de toneladas só em 2016).
Quanto carbono você está gerando naquela inocente viagem aérea? Você pode conferir o valor aproximado nesta calculadora disponibilizada pela ICAO (Organização Internacional da Aviação Civil).
Basta inserir a cidade de origem, destino e classe (econômica ou premium) e o site faz o cálculo para você. Tem uma explicação extensa sobre como essa conta é feita neste link.
Como base de comparação, vamos usar os valores de referência apresentados pelo livro “Como Viajar Sem Prejudicar o Meio Ambiente“, de Siân Berry (de novo!).
Segundo a autora, um avião com ocupação média gera em torno de 210 g a 530 g de carbono por passageiro, por quilômetro. Vale lembrar que trajetos menores consomem mais CO²/km visto que uma quantidade maior de combustível é gasta na decolagem e aterrissagem.
Curiosidades sobre a geração de CO² em aviões:
-
- Dar descarga em um avião pode consumir combustível suficiente para que um carro ande por quase 10 km, segundo um estudo da China Southern Airlines.
- Voos diurnos são mais eficientes, de acordo um uma pesquisa da Universidade de Leeds e Reading, na Inglaterra.
- Voos com diferenciação de classes produzem 1,5 vezes mais carbono, enquanto trajetos diretos produzem duas vezes menos CO², segundo estudo da Tufts University, de Estocolmo. (Fonte: A Tarde)
Quando escolher o avião para sua viagem
Parece horrível saber de todos os impactos da aviação. Mas acredite: pior do que isso é não ter acesso a esse tipo de informação.
Você não precisa ir a nado até outro continente ou nunca mais fazer uma viagem internacional na vida. Eu não vou deixar de voar, mesmo sabendo que essa atividade é responsável por 5% da poluição climática do planeta.
Lembra lá em cima, quando falamos sobre fazer uma estimativa do máximo de horas que você aguenta num ônibus/trem? Deixe o avião apenas para casos que saiam dessa cota ou quando tiver tempo limitado para chegar até o destino. Se conseguir trocar alguns voos por viagens terrestres, o planeta sai ganhando perdendo menos.
Vou para Curitiba de avião em novembro, por exemplo, porque estou indo para o ERBBV e não teria como chegar a tempo caso fosse de ônibus. Não precisa sentar e chorar no chuveiro (até porque… desperdício de água, né, mores?), mas dá para pensar em compensar suas emissões. Não é a solução perfeita, como a Ana Duék explica neste artigo publicado no Viajar Verde, mas já reduz um pouco do problema.
Ferry Boat
Se o seu negócio não for voar e o destino da viagem for inacessível por terra, a água é sempre uma saída. Nesse caso, opte por embarcações menores: as menos poluentes são as que levam até 100 pessoas a bordo.
Para viagens curtas, o ferry boat é uma opção melhor do que os voos. Ele pode ser uma alternativa para trajetos entre Espanha e Marrocos ou de Montevideo a Buenos Aires, por exemplo.
Como uma regra simplificada, pegar um ferry costuma ser menos poluente do que voar, mas viajar em cruzeiro polui mais do que o avião. Abaixo você vai entender o porquê.
Cruzeiro
O The Guardian fez uma reportagem bem interessante sobre os impactos ambientais dos cruzeiros. Segundo cálculos de especialistas ouvidos pela reportagem, um navio de grande porte emite dióxido de carbono equivalente a mais de 83 mil carros – e mais dióxido de enxofre do que 370 milhões de veículos.
As emissões são tão fortes devido ao tipo de combustível usado nestas embarcações. A média é de geração de 692 g de CO² por passageiro por quilômetro.
Além da poluição do ar, há ainda outros fatores para se evitar este tipo de transporte: as enormes quantidades de lixo geradas nos cruzeiros, péssimas condições de trabalho dos funcionários, e até mesmo casos de violência sexual. O João Lara Mesquita fala sobre estes problemas no Mar Sem Fim.
Isso sem esquecer que nenhum centavo gasto em um cruzeiro é revertido em benefícios para os destinos. Inclusive a acomodação e alimentação são feitas dentro dos barcos, operados por grandes empresas. Será que é esse mesmo o modelo de turismo que queremos para o mundo?
Nota: todos os valores apresentados aqui são baseados em estimativas e as fontes são citadas ao longo do texto. Foi dada preferência a estatísticas nacionais, sempre que estas estivessem disponíveis. Quando não encontradas, foram utilizados dados internacionais.
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