Passamos três meses viajando pela Europa e pelo Marrocos. Seis voos no total. Parece pouco, mas eu gerei 2.890 toneladas de carbono apenas nestes trechos voados¹.
[PAUSA PARA REFLETIR]
Eu não vou parar de viajar de avião e nem estou pensando que alguém vá fazer isso. Mas a verdade é que as viagens aéreas são um problemaço para o meio ambiente e estou há tempos buscando maneiras de diminuir esse impacto.
Como surgiu esse questionamento?
Durante os meses que passo em Porto Alegre, a rotina é corrida: trabalhar, dar um jeito na casa, ver amigos, visitar a família, fazer atividade física três vezes por semana, pós-graduação de noite, curso de XYZ nos finais de semana, reencontro da turma, batizado, casamento, aniversário, reunião com contador, check up no médico.
Não dá.
Não dá para pensar e muito menos (re)pensar o meu estilo de vida, mas faço isso enquanto viajo.
Continuo trabalhando, mas diminuo o ritmo. Transformo os passeios pela cidade na minha atividade física e as conversas que tenho em conhecimento adquirido. Não tem diploma para isso, mas quem se importa?
Foi na viagem que fiz no final de 2016 que uma sementinha ficou plantada na minha cabeça. Naquele ano, quase todo o nosso roteiro foi feito por via aérea – e lá se foram umas trocentas toneladas de carbono.
Além de mais cansativo, foi péssimo para o meio ambiente… No meio de tanto sobe e desce em aviões, eu ficava pensando em como diminuir esse impacto, mas acabei deixado a ideia adormecer por muito tempo até vir aqui escrever sobre o assunto.
De onde vem tanto lixo
Eu já tinha interesse por temas relacionados à sustentabilidade, mas foi olhando uma vitrine da Lush durante uma Black Friday em Nápoles que conheci um conceito que me encantou: o “zero waste“, lixo zero ou desperdício zero.
É meio irônico até que eu tenha me aproximado de um movimento de desperdício zero durante o maior evento de compras desnecessárias dos últimos tempos.
Explico: foi na Lush que conheci o xampu sólido, que nada mais é do que um xampu, só que em barra. Com essa simples mudança de líquido para sólido muitas embalagens são poupadas – ele vem envolto apenas em um papel.
Eu não comprei o produto naquele dia, porque a ideia também me pareceu estranha.
Cheguei em casa e pirei pesquisando em sites sobre o assunto. Descobri o conceito de lixo zero e fui lá encarar a minha primeira barra de xampu. 😀
Do xampu sólido ao lixo zero
Como o meu cabelo não estava se adaptando do jeito que eu gostaria, fui catar mais informações sobre o xampu sólido e acabei parando no maravilhoso blog da Crystal Muniz, o “Um Ano Sem Lixo“, em que ela tem um post todinho sobre esses xampus (não só da Lush, mas de muitas marcas!).
Me apaixonei e devorei metade do blog dela, fui parar no site do “Menos Um Lixo” e acabei enlouquecendo no conceito.
Agora pensa que isso foi em novembro de 2016. De lá pra cá, fui fazendo muitas mudanças graduais. Eu já usava sacolinhas reutilizáveis desde sempre, tinha um filtro de barro em casa para evitar comprar água em embalagens plásticas e recusava canudos e guardanapos desnecessários na rua, mas fui descobrindo que dava para fazer ainda mais para gerar menos lixo. E que isso era simples.
No começo, achei estranho falar sobre isso aqui no blog – porque, né? O que é que viajar tem a ver com lixo zero? Afinal, o turismo é uma indústria que gera muito lixo nesse mundo e estou aqui, ano após ano contribuindo para que isso aconteça…
Então senta aqui que a gente precisa conversar melhor sobre esse assunto.
O que é o movimento lixo zero?
Calma, essa é uma pergunta que todo o mundo se faz quando se depara com o termo.
Na verdade, o lixo zero nem é tão zero assim, o que seria quase impossível para quem vive em uma cidade. Há quem diga que você só pode se intitular assim se for vegano, não usar plásticos, tiver uma composteira em casa, usar ducha higiênica no banheiro e fizer os seus próprios cosméticos.
Por muito tempo acreditei nisso, mas fica tranquilo que as coisas não precisam ter tantas regras (ainda bem!).
A própria Bea Johnson, fundadora do movimento desperdício zero, publicou recentemente uma foto no Instagram (veja abaixo) contando que ela e a família comem carne de vez em quando e explicando como fazem para comprar o alimento sem gerar mais lixo.
Foi o maior bafafá e um zilhão de pessoas declarou que deixaria de segui-la na rede depois disso, mas a questão é que realmente não existe certo ou errado.
Então, se até a moça que produz apenas um vidrinho de lixo durante o ano está dizendo isso, vamos combinar que ser “zero waste” está mais relacionado à sua atitude e questionamentos gerados diante do consumo do que a uma vida de privações, ok? Ufa!
Algumas coisas que são simples e podem funcionar para quase todo o mundo:
- Evitar itens descartáveis (copos plásticos, canudos, guardanapos, etc)
- Fugir de materiais e objetos que não são recicláveis (como adesivos) ou que têm baixo índice de reciclagem (como o isopor)
- Escolher sempre os materiais retornáveis ou mais sustentáveis
- Reduzir ao máximo o consumo de plásticos (porque, apesar de recicláveis, eles ficam para sempre no universo e têm muitas substâncias que fazem um puta mal pra saúde)
- Dar o destino correto a todo o seu lixo (isso inclui os remédios vencidos que eu sei que você descarta errado)
- Evitar produtos que têm químicos pesados e umas substâncias estranhas (seja na comida, na maquiagem ou nos itens de limpeza)
- Compostar (para mim, o mais difícil dessa lista)
Em resumo: CONSUMIR CONSCIENTEMENTE ♥
O que isso tem a ver com viagens?
Você talvez não tenha noção do impacto de uma simples viagem para o meio ambiente, mas os números são de doer.
Em 2016, as companhias aéreas produziram mais de 5,2 milhões de toneladas de lixo. E esse é só um dos lixos que é produzido quando viajamos.
Muitas vezes, por desconhecimento, acabamos descartando embalagens e outras coisas de forma errada no destino que visitamos. Cada cidade tem a sua própria forma de separar e recolher os materiais e é normal ficar confuso quanto a isso.
Some-se a isso os kits de viagem (descartáveis e cheios de plástico), as lembrancinhas desnecessárias, o fast food que você compra para economizar, as passagens e ingressos, aquele papel que você pegou no museu porque, quem sabe, pode ler um dia… E já rolou uma montanha de resíduos maior do que o Evereste (que também está cheio de lixo).
Se não dá para acabar com ela, pelo menos é possível começar a praticar os tão falados “5Rs”. Tem muitas variações de quais são esses “Rs”, mas aí vai a versão que eu considero a mais interessante:
- Recusar ⛔
- Reduzir 💭
- Reutilizar 💪
- Reciclar ♻️
- Replantar² 🌱
Começamos esse novo projeto especial do Quase Nômade hoje e espero que vocês me acompanhem nos próximos dias, porque já tem muito assunto bacana programado por aqui.
Vamos falar sobre geração de lixo em viagens de avião, transportes mais sustentáveis, kit de higiene desperdício zero, entre outros assuntos.
Use a caixa dos comentários para deixar as suas sugestões de temas, compartilhar experiências e escrever sobre aquelas dúvidas comuns quando se trata de sustentabilidade. Vamos juntos fazer um turismo mais limpo. 🙂
Notas de rodapé
¹ Cálculo realizado através do site Idesam, que sugere o plantio de 8 árvores para compensar essas emissões.
² Replantar é minha tradução bem versão-brasileira e nada fiel do “rot“, termo que, em inglês, compõe os “5Rs” e que significaria algo como “putrefação”. A melhor tradução, na minha opinião, seria “compostar”, mas daí não é com “R” e fica bem menos legal.
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Marcelo Ribeiro diz
Muito bom! Adorei o post.
Já tinha ouvido alguma coisa sobre lixo zero, mas nunca dei atenção, e agora encontrei o seu texto.
Parabéns!
Mari Dutra diz
Que bacana saber disso, Marcelo. A gente vai fazendo a nossa parte, né? 🙂
@ErreNascimento diz
Loved! 🌱🍃💚
Mari Dutra diz
Saudade de você, Rafis! 💚