Homens ganham livros, mulheres recebem rosas. 🌹 Assim é a tradição no dia de Sant Jordi, na Catalunha, região independentista localizada ao norte da Espanha. Trata-se de uma espécie de Dia dos Namorados local. Na prática, a coisa não é tão engessada (nem tão sexista) assim. Cada um dá e recebe o que preferir.
Um dos feriados mais populares em cidades catalãs como Girona ou Barcelona, Sant Jordi é uma homenagem a um santo bastante conhecido dos brasileiros… São Jorge, é claro!
No dia 23 de abril, quando se comemora a “Diada de Sant Jordi“, as cidades se enchem de bancas de livros e de rosas. Muitas livrarias na Catalunha também oferecem obras com descontos durante toda a semana e a data é sempre um sucesso de vendas.
Lenda de São Jorge
São Jorge provavelmente nasceu em Capadócia, na Turquia. É quase um mistério a maneira como ele deu a volta ao mundo e se tornou padroeiro de lugares tão diversos quanto a Catalunha, a Inglaterra e a Palestina, mas foi o que aconteceu.
Pelas bandas catalãs, o que se conta é uma versão da lenda original (e cada povo tem a sua, é claro!).
Tudo começa com a chegada de um dragão feroz em Montblanc, um povoado a cerca de 1h 30 min de Barcelona. O dragão se contentou inicialmente com devorar todos os animais da cidade. Só que a bicharada acabava e o povo decidiu que iria oferecer um habitante a cada dia para saciar a fome do monstro. 🐲
A pessoa que serviria de refeição era escolhida por sorteio e até mesmo a família real entrou na roda. Até que um dia a sorteada foi a filha do rei – e aparentemente ninguém se importa com o nome da princesa.
Diante disso surge Sant Jordi (ou São Jorge) para resolver essa pendenga e matar o dragão. Nosso cavaleiro, como a gente já sabe, assassinou o cuspidor de fogo, assim como fez em tantas culturas ao redor do mundo.
Segundo a lenda catalã, uma roseira teria surgido do sangue derramado pelo dragão. Vendo as flores, Sant Jordi arrancou uma, deu para a princesa e seguiu seu rumo na vida. Essa seria a origem do costume de presentear as mulheres com uma rosa na data.
Curiosidade: a lenda inspirou o arquiteto Antoni Gaudí na criação da Casa Battló, cuja construção remete a Sant Jordi e ao dragão. Quem se interssa pelo assunto pode também percorrer a obra de outro arquiteto do modernismo catalão, a Casa de Les Punxes (foto abaixo), de Josep Puig i Cadafalch, conta a história de forma interativa.
Dia de Sant Jordi
No dia 23 de abril de 2019, o mundo ainda não vivia uma pandemia (lembra que louco?) e eu saí de Girona rumo à minha aula de catalão em Salt, cidade vizinha. Fazia bem pouco que eu tinha começado a estudar o idioma e, no meio da loucura de alugar apartamento e fazer a minha documentação para viver na Espanha, tinha deixado “para depois” as informações sobre a cultura local.
Só que era dia de Sant Jordi e não teria como escapar. Chegando na aula, a professora logo nos arrastou para uma feira de livros próxima dali. Independente da cidade, são tantas barraquinhas que é quase impossível não se encantar com a festa.
Em 2020, devido ao Coronavírus, as feiras de livros foram adiadas (veja como cancelar sua viagem). A Espanha inteira está em quarentena desde o início de março e, na esperança de que as coisas melhorem nos próximos meses, o Gremi de Llibreters de Catalunya propôs que a festa de Sant Jordi fosse realizada excepcionalmente no dia 23 de julho.
Durante a quarentena, a ideia é que as pessoas saiam em seus terraços e leiam um trecho de um livro em voz alta, às 12h e às 18h do dia de Sant Jordi. Além disso, a cervejaria Estrella Damm contará com programação online transmitida diretamente de seu site durante todo o dia.
Por que presenteiam livros no dia de Sant Jordi
Os livros começaram a se misturar com o dia de Sant Jordi apenas no último século, como explica o site da Prefeitura de Barcelona.
Em 1927, o escritor valenciano Vicent Clavel i Andrés propôs à Câmara do Livro de Barcelona a realização de uma festa para promover o livro na Catalunha. Essa primeira festividade foi marcada para outubro, mas o sucesso foi tanto que decidiram mudar a data e estabelecer o dia 23 de abril como Dia do Livro nos anos seguintes.
A relação com Sant Jordi foi apenas uma coincidência (ou uma jogada de marketing?). Na verdade, a data marca a morte de dois grandes autores da história da literatura: Miguel de Cervantes e William Shakespeare.
Em 1995, a data catalã correu o mundo e 23 de abril foi declarado o Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor pela Unesco. Para celebrar, recomendo estas dicas de livros para viajar sem sair de casa.
Livros mais vendidos no Sant Jordi de 2019
Em 2019, o Gremi de Llibreters de Catalunya registrou lucros de 22 milhões de euros durante a celebração do dia de Sant Jordi. Todos os anos, eles divulgam quais os livros mais comprados em catalão e em espanhol.
Abaixo, listei os cinco primeiros livros de ficção mais vendidos do ano em cada idioma. Infelizmente, o único que tem tradução para o português até o momento é “A Intérprete“, da escritora alemã Annette Hess.
Para o restante dos livros que figuram no ranking, deixei entre parênteses uma tradução livre dos nomes das obras.
Mais vendidos em catalão
- “El fill de l’italià” (“O filho do italiano”), de Rafel Nadal
- ‘Digues un desig‘ (“Faça um pedido”), de Jordi Cabré
- ‘El fibló‘ (“A Picada”), de Sílvia Soler
- ‘Aprendre a parlar amb les plantes‘ (“Aprender a Falar com as Plantas”), de Marta Orriols
- ‘El millor d’anar és tornar‘ (“O Melhor de Ir é Voltar”), de Albert Espinosa
Mais vendidos em espanhol
- ‘Lo mejor de ir es volver‘ (“O Melhor de Ir é Voltar”), de Albert Espinosa
- ‘Yo, Julia‘ (“Eu, Julia”), de Santiago Posteguillo
- ‘Los asquerosos‘ (“Os Asquerosos”), de Santiago Lorenzo
- ‘Todo lo que sucedió con Miranda Huff‘ (“Tudo o que aconteceu com Miranda Huff”), de Javier Castillo
- ‘A Intérprete‘, de Annette Hess
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