Foi só eu publicar no Facebook o post que fiz sobre transportes sustentáveis que começaram os questionamentos sobre meios alternativos, como motos e bikes (por sinal, aproveita e segue a gente lá!). Um destes comentários falava sobre o amor pela viagem de bicicleta.
Percebi que tinha uma faísca ali e não quis deixar a ideia passar.
Foi assim que surgiu essa entrevista, para complementar o post anterior, agora com foco apenas em viajar de bicicleta. 🚴
Parece loucura? Pois saiba que tem gente que encara quilômetros e ultrapassa fronteiras pedalando. É o caso da Rafaela Asprino e do Antonio Olinto, por exemplo.
O pior é que eu não tinha nem esquecido dessa modalidade de transporte. Como sou um serzinho essencialmente urbano, eu simplesmente ignorei o fato de que há sim viajantes que topam sair por aí se equilibrando nas estradas da vida em meios de transporte menos poluentes. Errei rude. Sim ou com certeza?
Para reparar esse erro, nasce essa entrevista. 🙂
Viagem de bicicleta e o cicloturismo
Rafaela e Antonio passam a vida viajando sobre duas rodas e são responsáveis pelo site Olinto, um dos pioneiros em explorar o segmento do cicloturismo no Brasil. Desde 2008, os dois são nômades e alternam sua rotina entre mapeamento de percursos no Brasil e viagens de bicicleta pelo exterior. A mais longa delas foi pelo Oriente Médio, com mais de 5 mil km pedalados durante quatro meses entre o Irã e a Turquia.
Batemos um papo virtual com a Rafaela para entender como é a rotina de quem explora o mundo pedalando. Para ela, as principais diferenças de se optar por esse meio de transporte são a velocidade, a potencialização sensorial e a atividade física.
Olha o que ela fala sobre o assunto (as falas dela vão sempre aparecer aqui como o parágrafo abaixo) ⤵️
A bicicleta possibilita o deslocamento em uma velocidade natural, onde podemos apreender cada detalhe do caminho com todos nossos sentidos, não só os detalhes visuais, mas também o clima, os sons, os odores e perfumes. A experiência é mais completa. Nos movendo de forma ativa, ganhamos em saúde e energia, quebrando com o sedentarismo da vida moderna. Além disso, o interesse e a curiosidade que o viajante de bicicleta desperta nas pessoas é maior que em outros meios de transporte.
É essa curiosidade que faz com que, normalmente, os moradores locais se interessem em conversar com os viajantes, permitindo conhecer mais profundamente a cultura local. “Todas essas características, somadas ao fato de passar o dia a dia da viagem na cadência da pedalada, podem fazer com que o viajante entre em um estado meditativo, onde reflete sobre as experiências vividas e sobre si mesmo“, ressalta.
Aprendizados sobre duas rodas
Hoje, a experiência em viagens sobre duas rodas é uma grande aliada de Rafaela, mas nem sempre foi assim. Seu primeiro roteiro de bike foi no Caminho da Fé, um trajeto de peregrinação brasileiro baseado no Caminho de Santiago de Compostela. Na viagem, ela aprendeu que carregar somente o essencial permite chegar mais longe – e compartilha dicas sobre esse percurso com outros viajantes.
Os aprendizados se somam a cada novo roteiro.
Na Escandinávia, minha primeira viagem de aventura de bicicleta, descobri em mim o gosto por viver na natureza e de forma nômade. Nos Himalaias indianos, a vastidão das paisagens, a cultura e religiosidade das montanhas tibetanas me proporcionaram experiências interiores muito marcantes. No Altiplano Andino, enfrentei adversidades climáticas que puseram à prova minhas capacidades físicas e me fizeram mais forte. Já em nossa última viagem pelo Oriente Médio, a experiência cultural foi transformadora.
Para ela, cada viagem é uma oportunidade de somar experiências e, dessa forma, os aprendizados variam de acordo com o que acontece durante o percurso – mas tudo irá depender também da disposição do viajante de se transformar.
Sobre o tempo necessário para roteiros em bicicleta, Rafaela lembra que não existe uma regra. Há quem viaje por um final de semana prolongado e quem invista em viagens de volta ao mundo, que podem durar diversos anos. “No cicloturismo, o tempo é uma grandeza mais importante que a quilometragem. Quanto mais tempo você puder dedicar à viagem, mais possibilidades terá de viver e aprender com as experiências do caminho“, lembra.
Viagem de bike: preparo e coração aberto
No entanto, nem tudo são flores. Rafaela vê a cultura do automóvel como um dos maiores entraves para quem viaja em bicicleta no Brasil. O trabalho desenvolvido pelo casal busca justamente mapear rotas alternativas pelo país.
Nós já mapeamos mais de 6 mil km de caminhos que julgamos interessantes para se viajar de bicicleta, desde o Rio Grande do Sul até o norte de Minas Gerais. Eles estão todos descritos detalhadamente em nos nossos Guias de Cicloturismo. No momento estamos escrevendo um novo Guia, mapeando roteiros que farão a conexão até o Nordeste.
Ainda sobre segurança, Rafaela conta que já viajou sozinha de bicicleta algumas vezes, quando percorreu o Caminho da Fé e o Caminho Velho da Estrada Real. “Ao contrário do que se imagina, as pessoas, ao verem uma mulher viajando sozinha, se tornam ainda mais solidárias e acolhedoras. São inúmeras as belas histórias que vivemos e também que ouvimos de outras viajantes.“
Para quem pretende encarar uma viagem sobre duas rodas pela primeira vez, ela indica que o mais importante é estar preparado para as descobertas e imprevistos do caminho.
Claro, quanto mais bem treinada uma pessoa estiver, mais poderá desfrutar da viagem, mas acredito que ter o coração aberto para o novo nos faz abraçar com alegria a realidade e as vivências do caminho, aprender com ele e nos transformar.
Viajar de bicicleta é mesmo sustentável?
É, sim. MUITO. ♥
Além de não emitir poluentes, a bicicleta é também um ótimo exercício. Entretanto, os benefícios não param por aí: viajar de bike é ainda muito econômico. Afinal, você investe uma vez para comprar a bicicleta e, depois, basta fazer a manutenção da magrela direitinho.
Zero gasto com combustível. Zero impacto ecológico.
Quer coisa mais sustentável do que isso?
Obviamente, nem todos os lugares são adequados para viajar de bicicleta e é importante ter isso em mente na hora do planejamento do roteiro, bem como conhecer suas próprias limitações. Não adianta inventar um itinerário maravilhoso, com milhares de quilômetros pedalados, se você não tem preparo físico para esse tipo de percurso.
Lembre-se de que a sua saúde deve vir sempre em primeiro lugar – e planeje-se para contratar um bom seguro viagem antes de embarcar. 😉
Acompanhe mais das aventuras de Rafaela no Olinto.com.br e através do Instagram.
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