De todas as paradas que fizemos durante os cinco dias em que participamos do Pocando no Espírito Santo, nenhuma me tocou tanto quanto a visita à Casa de Pedra, no município de Serra. E olha que visitamos muitas atrações no estado – já comentei aqui sobre hotel que ficamos em Vila Velha e sobre a maravilinda Rota do Lagarto, em Domingos Martins. Mesmo assim, conhecer a história do artista Neusso Ribeiro e da casa que ele construiu com as próprias mãos tocou lá no fundo desse coraçãozinho nômade. 💟
É óbvio que não consegui deixar de associar a criação do artista com a história da Casapueblo, em Punta Ballena (Uruguai), onde o também artista Carlos Paes Vilaró ergueu uma enorme construção que se tornou sua maior obra de arte. No caso de Neusso, que nasceu no Vale do Jequitinhonha e adotou Serra como lar, aconteceu o mesmo.
A sua Casa de Pedra foi construída no bairro de Jacaraípe, com pedras e cascos de madeiras queimados que conseguia juntar. Conseguir esse material e transformá-lo nesse imenso trabalho de arte não foi uma tarefa simples. A obra demorou cerca de dois anos para nascer e hoje dá lugar a uma galeria de arte única.
A construção da Casa de Pedra
Quando soube que um italiano estava queimando cascas de árvores, Neusso foi lá pedir o material. Na chegada, um dos funcionários do imigrante já avisou que ele não estava disposto a ceder os restos de madeira. Neusso insistiu. Foi conversar com o italiano pessoalmente apenas para ouvir outra negativa. Mesmo se recusando a colaborar, o imigrante deixava que Neusso levasse um pouco das cascas sempre que aparecia lá, ainda que a contragosto.
“Um dia eu cheguei lá e ele tava lendo uma matéria e tinha saído a frente da Casa de Pedra. De longe eu vi no jornal. Falei ‘Cara, ele tá com jornal que tem a Casa de Pedra bem na frente assim’. Aí me aproximei e falei: ‘Ó, a casa que eu tô construindo é essa casa que tá no jornal. Aí ele parou e falou: ‘O que que você precisa?’“,conta Neusso com seu riso fácil.
A resposta ele já tinha na ponta da língua: “Eu preciso das casca!“. O italiano se rendeu à beleza da construção. Mandou um caminhão de cascas inteiro para que Neusso utilizasse.
Quem vê tanto talento e desenvoltura no uso de diferentes materiais quase não acredita que o artista é completamente autodidata. Ele conta que, no Vale do Jequitinhonha, onde nasceu, “todo mundo sabe fazer algumas coisas“.
“Tem que se virar pra sobreviver. E eu sou um filho desses que veio pra cá. Eu sou irmão de 15 irmãos que foram estudar na roça e tudo, foi difícil pra danar. Cada um foi seguindo seu caminho e eu vim, comecei fazer essas coisas e não parei mais.”
Uma dessas coisas foi a Casa de Pedra, com seu chão de mosaicos e um banheiro feito pelo próprio artista. Nem ele esperava que seu trabalho fosse tão longe e confessa entre tímido e brincalhão que não fazia ideia de qual seria o resultado quando começou a construção. Hoje, Neusso conta que a casa funciona como um abrigo para o frio, além de ser fresca nos dias quentes. “É que a casa de pedra assim tem um efeito caverna, sabe?“.
A casa coleciona histórias, que Neusso conta com um sotaque gostoso que só ele tem. Uma delas envolve dois arquitetos que moravam perto e apareciam às vezes para ver a construção. “Vez em vez eles vinha e me dava uma alegria tão grande. Eu falei: ‘cara, os cara vai falá o que que eu tenho que fazê!’. Mas aí eles entravam, olhavam. E eu falei: ‘mas e aí, que que cês acham?’; E eles: ‘não, nós não podemos fazer isso com você. Continua fazendo sua história‘“, ri ele quando lembra, olho brilhando de felicidade. “Só que eles nunca me ensinou nada, nunca me falaram nada“.
A Casa de Pedra foi erguida há 28 anos e hoje não se restringe apenas à história de Neusso. Embora tenha sido o propulsor de um movimento artístico no bairro de Jacaraípe, muitos outros artistas foram se mudando para a região inspirados pela sua criação. Hoje, ao redor da casa está a chamada Vila das Artes, que compreende também o ateliê de Neusso, localizado em frente à Casa de Pedra, bem como ateliês e lojas de outros artistas da região.
Neusso, em compensação, não mora mais na sua construção. Ele conta quase tímido que comprou um “pedaço de matinho, tem uma lagoa no fundo. Aí tinha uma clareira no meio da matinha e aí eu fiz uma casinha pequenininha, um chalezinho. Aí mudei pra lá“. Apesar disso, o artista ainda costuma receber os visitantes no local com frequência, sempre disposto a compartilhar um sorriso, sua história e uma dose generosa de sabedoria.
Dicas para visitar a Casa de Pedra em Serra-ES
Os blogueiros capixabas que participaram do Pocando avisaram que o transporte interurbano no Espírito Santo não é nenhuma maravilha. Por isso, o mais recomendado para conhecer o local é alugar um carro saindo de Vitória. Reservando o veículo com a RentCars, você não paga nada a mais por isso, recebe nossa gratidão eterna e nós ganhamos uma pequena porcentagem, que ajuda o blog a se manter online. Ou seja, todo mundo sai ganhando. 🙂
Para chegar até lá, são cerca de 45 minutos de carro e dá para combinar com uma passagem por Manguinhos, um balneário super charmoso também localizado no município de Serra. Além disso, é cobrado um ingresso de R$ 3 para entrar na Casa de Pedra.
Para saber mais, siga a Casa de Pedra no Facebook ou acesse o site do espaço. Confira também o que os queridos do Baú do Viajante, do Por Aí Dicas de Viagem e do Caminha Gente escreveram sobre esse lugar mágico.
Nota¹: Este post pode conter links para parceiros do blog, que foram inseridos espontaneamente pela autora. Reservando serviços através destes links, você ajuda o Quase Nômade a se manter em funcionamento, recebe nossa gratidão eterna e não paga nada a mais por isso! ♥
Nota²: Durante o Pocando no ES fomos convidados a visitar Casa de Pedra, mas isso não afeta de nenhuma maneira as informações que divulgamos aqui. Nosso maior compromisso é com nossos leitores. Na imagem abaixo, você confere todos os parceiros dessa viagem. ⤵️
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Elaine Dal Gobbo diz
Essa história do italiano é bem legal. Neusso venceu não somente pela persistência, mas também porque o italiano se sentiu atraído pela maravilhosa obra que o artista estava fazendo.